"Sou uma mulher madura que às vezes anda de balanço
Sou uma criança insegura que às vezes usa salto alto
Sou uma mulher que balança, sou uma criança que atura."

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O grande encontro



Ela já estava acordada e começava a se aprontar para a sua primeira sessão de fotos, pois, por pura sorte, havia conseguido um convite para trabalhar como modelo fotográfica após ter sido descoberta por um olheiro enquanto comprava pão. No apartamento vizinho, porém, ele havia acabado de acordar e estava atrasado para a primeira entrevista de emprego decente que havia conseguido em toda a sua vida.
Ela gastou meia hora em um relaxante banho quente, cantarolando e sorrindo cada vez que pensava em como a sua vida estava maravilhosa ultimamente - aquele trevo de quatro folhas estava mesmo lhe dando sorte! Ele, contudo, fez a tardia descoberta de que a resistência do chuveiro elétrico estava queimada e acabou tomando banho frio em uma das manhãs mais geladas do ano. Definitivamente, hoje não era seu dia de sorte.
Ela sabia que ainda tinha tempo de sobra e poderia esperar mais duas ou três horas antes de sair de casa, mas preferiu adiantar-se e usufruir do prazeroso ócio que seria aguardar por um fotógrafo profissional. Que sorte a dela! Ele, entretanto, não tinha outra opção a não ser sair já e correr - correr muito - para, quem sabe, chegar a tempo. Que azar o dele!
Ele e ela, o azarado e a sortuda, o azar e a sorte. Não demorou muito e o encontro aconteceu ainda no elevador. Cara a cara, eles se encararam, se desmascararam e só então se compreenderam: eram duas faces da mesma moeda, eram duas metades que formavam um inteiro, eram dois extremos da vida.
(...)
Nunca descobriram se foi o azar dele ou a sorte dela que fez com que os dois ficassem presos naquele elevador e acabassem perdendo os seus respectivos compromissos. O fato é que saíram de lá de mãos dadas e assim seguiram por toda a vida: foi preciso que ficassem lado a lado para que descobrissem que nunca estiveram separados.
Hoje ela está desempregada e ele é dono de uma grande empresa. Amanhã, porém, o mundo vai girar e, só talvez, as coisas mudem.

Sorte: pseudônimo de esforço; azar: pseudônimo de preguiça; sorte e azar: dois estados passageiros de uma vida mais passageira ainda.

Pauta para o Blorkutando: Sorte - você acredita?

sábado, 25 de abril de 2009

Tic tac, tic tac, tic tac


O gosto da lágrima presa ainda está na garganta seca. E dói.

Às três da tarde ela viu o dia escurecer e o céu se cobrir com o seu manto negro e aveludado. Resolveu se sentar para não cair, porque os seus pés já não a obedeciam. Sentou-se na cama e, com o livro aberto em mãos, observou as páginas pararem para ver o mês passar preguiçosamente - mas ele não passou e Maio, tadinho, ficou a esperar. Finalmente o ponteiro menor do relógio apontou para o número seis e anunciou a chegada das dezoito horas e dos seus incontáveis segundos que, antes tão apressados, haviam resolvido fazer greve justamente hoje.
O céu tornou-se ainda mais escuro, só que agora ela já não se importava mais. Não podia vê-lo, de qualquer forma. A escuridão havia deixado-a cega - e a perda de um sentido pode aguçar os outros. Desistiu de esperar e de tentar em vão. Fechou o livro, fechou os olhos e até hoje ela espera pelo sono. Esperava, porque não espera mais. O despertador tocou e ela pôde ver que já eram quase sete da manhã, mas ainda não havia amanhecido. O que tinha acontecido, afinal? O céu ainda estava tão escuro quanto na noite passada. É, talvez fosse ficar assim por mais algum tempo...

Pelo menos durante o tempo necessário para que ela pudesse vê-los sorrindo de novo.

O Sopa ganhou selinho :)

"Regras deste selo: Esse é o Troféu do Amigo! Esses blogs são extremamente charmosos. Esses blogueiros têm o objetivo de se achar e serem amigos. Eles não estão interessados em se auto promover. Nossa esperança é que quando os laços desse troféu são cortados ainda mais amizades sejam propagadas. Entregue esse troféu para oito blogueiros(as) que devem escolher oito outros blogueiros(as) e incluir esse texto junto com seu troféu!!!"

Indicados:

O oitavo e último dedicaria ao Cabaret mais quente do momento, mas não sei se um selo tão delicado ficaria bem na parede de um lugar de macho. Falando nisso, quero a minha cópia autografada do Manual, hein? :P


Aêaêaê! Muuito obrigada, Lah. O primeiro selo a gente nunca esquece! ;) A propósito, aqui vai o link para quem quiser dar um pulinho lá no blog dela: http://lahnyc.blogspot.com/
Também queria agradecer a todos que comentaram no último (e inútil) post. Embora ainda não tenha tido a oportunidade de conhecer um pouquinho mais sobre a maioria, as palavras de incentivo me fizeram tão bem que vocês nem imaginam. Enfim, o dia hoje não foi nada fácil. Já chorei tudo o que tinha de chorar, mas acho que ainda choro um pouco mais; já tirei uma nota muito medíocre na prova de química; já recebi o abraço daquele que só se torna mais e mais especial para mim; já percebi que daria o mundo só para não vê-lo sofrer assim. Brigada mesmo, gente. De coração.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

. . .

Chorar para não morrer afogada e calar para não morrer atolada.


gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira gira virou de ponta cabeça.




Tempo ao tempo, tempo a mim.
Ignorem o post inútil, de qualquer forma.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Se descuide, se jogue, arrisque

Salvador, 2 de dezembro de 2023.


Querida Fernanda,


Embora não tenha tido a felicidade de te conhecer pessoalmente, a minha mãe fala tanto sobre você que já me considero capaz de escrever-lhe sem maiores formalidades. Já sei de tantos detalhes sobre a sua vida e reconheço tantas semelhanças entre nós que, às vezes, até chego a pensar que nos conhecemos há mais tempo.
Sabe, Fê, cada vez que olho para a sua fotografia e enxergo através da sua alma, percebo que você é exatamente como eu era há quinze anos atrás, quando ainda tinha a sua idade: mais uma menina cheia de dúvidas e inseguranças. Mas não se preocupe, garota. Se isso te alegra, acabo de chegar aos trinta e as dúvidas ainda permanecem firmes, fortes e somadas as dívidas – a maior delas é comigo mesma, diga-se de passagem.
Com um tempo você acaba aprendendo a lidar com as suas interrogações e descobre que são elas que fazem com que as suas exclamações sejam tão exclamativas, se é que você me entende. Um dia você irá entender, de qualquer forma. Depois de um tempo você acaba aprendendo a lidar com os comentários maldosos (ou pelo menos a ignorar os mesmos) e percebe que eles são tão grandes quanto a mente daqueles que os fazem.
Lembro do sofrimento que foi para fazer vestibular. Nem tanto para passar, porque, graças a Deus, eu tive uma excelente base. Difícil mesmo foi responder àquela perguntinha que definiria o meu destino: ser o quê? Eis a questão, Nanda. Eis a questão... Questão complexa e, contraditoriamente, tão sórdida, já que ser você deveria ser o suficiente. Deveria bastar, mas não basta. É preciso ser a Médica Você, a Advogada Você, a Doutora Você... Como se significasse algo além de status – status de idiota, se quer saber a minha opinião sincera.
É claro que você tem capacidade. É claro que você pode ser absolutamente tudo que você quiser. O que você quer ser, porém? Porque de nada adianta enfrentar a concorrência do curso de Medicina da USP (já chegou à marca de 500 para menos uma vaga, a propósito?) e se tornar só mais uma médica, só mais uma infeliz.
Viva, Fernanda. Mas viva de verdade, fazendo as escolhas que VOCÊ julgar serem boas. E se você optar por aquele curso com a concorrência de um candidato para cada duas vagas e ouvir algum murmúrio de reprovação ou um “tanta capacidade desperdiçada” de desapontamento, ignore. Isso mesmo, Fê. I-G-N-O-R-E. A concorrência do curso pode até ser de um para duas, mas a do verdadeiro dom é de uma para um bilhão. E dom você tem, agora só falta a coragem para descobrir para quê.
A estrada será longa, mas, como diria o Renato Russo, "nunca deixe que lhe digam que (...) seus planos nunca vão dar certo, que você nunca vai ser alguém". Você vai ser alguém sim e digo mais: você vai ser exatamente quem você quiser ser. Só depende de você.
Se cuide, Fernanda. Ou melhor, não se cuide, não. Se descuide, se jogue, arrisque. Só assim você chegará aos trinta com uma cabeça de quinze, com os mesmos arrependimentos que terá aos dezoito e com as dúvidas que terá sempre.


Da sua amiga, Fernanda Leal.


•••


Porque a escolha é SEMPRE sua, é sempre minha, não importa o que lhe digam, não importa o que me digam. A propósito, acho que essa carta será bem útil quando eu recebê-la, daqui a um pouco mais de dois anos. Caso venha a ser útil para mais alguém, aí vai um site que pode ser bem interessante: http://www.futureme.org/


segunda-feira, 20 de abril de 2009

A vida é tão rara

"Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude." (Pedro Bial)


O ser humano é mesmo uma espécie extremamente complexa. Enquanto os animais correm assim que sentem o cheiro do inimigo, os homens insistem em apanhar e sentir na pele a dor do ceticismo, sempre esperando por dados cientificamente comprovados que nunca chegarão. Tudo isso para entender lições tão simples como as que vida tem a ensinar. Eu mesma, como não poderia ser diferente, já dei por várias vezes a cara à tapa, o dedo à corte, a pele à queimadura... Mas valeu a pena. Não coloco mais o dedo naqueles dois buraquinhos da tomada que pareciam tão amigáveis anatomicamente.
E assim a vida segue e faz de alguns mestres que reconhecem que não sabem de nada e de outros eternos aprendizes que acham que já sabem tudo. Enquanto os mestres saem às ruas, reunem os amigos e fazem da juventude uma verdadeira festança, os aprendizes esperam pelas fotos do encontro que ilustrarão as paredes da memória. Até que acontece uma coisa chamada trabalho. Ele vem e quando você se dá conta já é tarde demais. Cadê o tempo que estava aqui? A vida comeu. Cadê aquela foto que estava aqui? Continua no mesmo lugar, mas a vida tratou de esfregá-la na cara de quem resolveu deixar o tempo passar sem sequer se despentear.
Então os aprendizes se olham no espelho e se espantam com as terríveis marcas de um passado mal vivido. De onde saíram tantas rugas? - eles pensam. Saíram das noites em que preferiu dormir à sair para dançar, das tardes em que optou por assistir TV à jogar futebol na chuva, das manhãs que passou resmungando e nem sequer notou o quanto o céu é lindo - e é seu, ou pelo menos era - e de todos os dias em que prefiriu levar uma vidinha mais ou menos à ser levado por ela bem no meio do seu epicentro.
Mas agora, caro aprendiz, já é tarde demais para se tornar um mestre.


Curta, dance, quebre, mexa, brinque, viva.






Pauta para o Blorkutando. Amei, diga-se de passagem. *-*

domingo, 19 de abril de 2009

Até! Que a morte nos separe!


As malas já estão prontas e esperam ao lado da porta pelo seu dono. Quando serão levadas dali, porém, ainda é um mistério, mas os fatos levam a crer que não irá demorar muito até que o "até que a morte nos separe" se transforme em "até! Que a morte nos separe". No banheiro, nem o barulho do chuveiro ligado é capaz de abafar os soluços e o chororô que já tomam conta da casa, bem como o clima de velório.
Separações são sempre delicadas e, infelizmente (ou não), cada vez mais comuns nos dias atuais. Digo ou não porque, embora todos reconheçam a influência que uma família unida e bem estruturada exerce sobre a formação de todo e qualquer cidadão, ninguém pode negar que não existe nada pior do que viver em uma casa que, como um vulcão, ameaça entrar em erupção a qualquer momento. E digo isso por experiência própria.
Filha de pais separados, reconciliados e futuramente separados novamente, devo admitir que custei a entender e a aceitar o fim do relacionamento de dezoito anos. Hoje, porém, mais velha e menos alienada, posso perceber que manter um casamento arruinado desgasta ainda mais do que o poderoso vulcão citado aí em cima, pois, por mais forte que pareçam as 'rochas' envolvidas, a erosão atinge-as em cheio - e as marcas são terríveis: estresse, choro, briga.
As cicatrizes de uma separação são, sim, profundas e custam a curar. As cicatrizes de um relacionamento sem amor, porém... Bom, para essas daí não tem remédio que dê jeito.


•••


Não tô inspirada ultimamente. Esse aí custou para nascer e, ainda assim, acabou nascendo de cesariana. :\

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Achados e Perdidos


A grande lona colorida havia sido armada cuidadosamente dias antes da grande estreia por aqueles que ali trabalhavam. O local, antes vazio e sem brilho, começava a ganhar vida com as crianças que corriam alegres acompanhadas pelos seus pais. Enquanto as arquibancadas do circo começavam a encher, do lado de fora uma jovem moça anunciava o espetáculo e gesticulava com empolgação para a bilheteria:
- Venham, venham todos! Só aqui no nosso circo terão a oportunidade de conhecer o melhor e mais poderoso mágico da história da humanidade! Comprem já os seus bilhetes!
Não demorou muito para que os ingressos esgotassem e o público se acomodasse nas poltronas. Percebendo a excitação que pairava pelo ar, o apresentador, um homem robusto e vestido elegantemente em um terno bem recortado, iniciou o espetáculo.
- Respeitável público, é com um enorme prazer que o Circo da Vida apresenta-lhes o melhor e mais poderoso mágico da história da humanidade. O único capaz de transformar cada um de vocês! Vamos aplaudi-lo!
A tenda se encheu com a ovação da platéia que só se calou quando o formidável mágico tomou o seu lugar no picadeiro. Era um senhor de idade marcado por rugas e que trajava uma roupa simples e absolutamente comum. Tinha uma postura péssima, como se carregasse um peso de muitos e muitos anos de experiência nas costas – de fato o fazia - e, no lugar dos tradicionais coelhos, varinhas e cartolas, trazia consigo um grande relógio de bolso.
Um burburinho de desaprovação fez-se audível e logo já era possível identificar perguntas como “cadê a cartola?” e comentários cheios de ceticismo – “isso é uma grande piada...”. O senhor, por sua vez, mais sábio do que qualquer outro mortal presente no local, pouco se importou. O murmúrio continuou crescendo até que uma criancinha, no auge da sua inocência, disse em voz alta:
- Eu não vou mudar nunca. Ninguém é capaz de me transformar!
- Oh, minha pobre garotinha, sinto-lhe informar, mas vai sim. – Iniciou o mágico e a sua voz serena e cheia de sabedoria tomou a atenção de todos. - Sabe esse teu sonho de construir uma casinha na árvore do sítio da família? Pois é, você nem lembrará dele daqui a 15 anos.
- Nunca! A casinha da árvore é tudo o que eu mais quero, senhor mágico.
- Eu sei, eu sei. Em breve, o quero terá virado queria, jovem. E sabe esse teu sonho de mudar o mundo e de nunca ser como os adultos, sempre ocupados demais para dar valor àquelas coisas que realmente merecem ser valorizadas? Pois é. Você também esquecerá disso daqui a uma ou duas décadas e acabará se rendendo à uma rotina estressante. O que você acha certo hoje, e devo admitir que realmente é, acabará se tornando o desperdício de tempo de amanhã. A vida é assim, pequena menina. E todos aqui sabem disso...
O mágico fez uma breve pausa e continuou depois de ter recuperado o fôlego.
- Suas prioridades e princípios acabarão mudando e os seus sonhos se perderão no caminho em direção a um mundo onde sonhar não é mais permitido. E, acredite, sou quem vou realizar cada uma dessas transformações. Apenas dê tempo ao Tempo.
Quando o homem terminou de falar, homens e mulheres aplaudiram-no de pé. Eles já tinham vivido o bastante para saber que o mágico estava certo. As crianças, porém, continuaram sentadas, digerindo em vão aquelas palavras que até então não tinham sentido algum.

(...)


O colorido da lona, agora desbotada, havia se perdido durante os quase vinte anos, mas parecia que ainda ontem ela estivera ali com os seus pais para assistir ao espetáculo inaugural do melhor circo que conhecera. A imagem do vestido rosa, do sapatinho boneca e das fitinhas coloridas que enfeitavam o seu cabelo na ocasião ainda estavam incrivelmente nítidas em sua memória. O sonho da casinha na árvore, porém, não.
A mulher checou o relógio de pulso. Tinha pouco tempo e logo teria que voltar à vida adulta. Desde quando ela começara a se importar com isso? Desde quando o trabalho se tornara mais importante do que a magia de um bom circo? Olhou para um lado e depois para o outro vasculhando e absorvendo cada detalhe da paisagem. Não demorou muito para que encontrasse o que estava procurando: em uma placa de madeira podia-se ler, ainda que com um pouco de dificuldade, a inscrição “Achados e Perdidos” e a seta que apontava para uma cabana singela. Empurrou com um pouco de dificuldade a porta de madeira e logo pôde ter uma imagem quase completa do senhor que descansava em uma cadeira de balanço por detrás do balcão.
- Olá. Estou à procura de algo que perdi há algum tempo.
- Quanto tempo? - o senhor respondeu, despertando do seu transe momentâneo.
- Bom, acho que já faz quase vinte anos.
- Sinto muito, senhora. Limpamos as nossas estantes a cada década. Lamento.
Cabisbaixa, a mulher agradeceu e deixou o local. Só agora ela podia compreender todo o poder e sabedoria daquele velho mágico que, se não lhe falhava a memória, chamava-se Tempo. Mas agora era tarde demais para recuperar os sonhos que havia perdido pela vida a fora.

•••

Ficou maior do que deveria, né? E olhe que eu ainda cortei o malabarista, o palhaço e mais alguns personagens... Enfim, só espero que não tenha ficado cansativo demais.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Concubina

Não lembro ao certo quando a conheci, mas sei que desde então ela não mais saiu da minha vida. Sempre esteve ao meu lado, me cercando por todas as partes e, como não poderia deixar de ser, após algum tempo passei a absorvê-la, desejá-la. Queria com todas as minhas forças dominá-la, tê-la só para mim. Foi em vão. Ela nunca quis nada sério comigo e, se bem a conheço, não vai querer nunca. E é isso que mais me dói, me revolta: não consigo deixar de amá-la, de necessitar dela assim como necessito do ar que enche os meus pulmões.
Já disse por várias vezes o quanto a amo e dependo dela, o quanto queria ao menos uma única oportunidade para conhecê-la tão bem quanto ela me conhece. Mas ela é paradoxal. Sensível e insensível, ela só quer saber de me usar, me dominar. Logo depois, porém, me ignora e me faz de amante. Amante. E é isso que eu sou no final das contas. Não posso tê-la oficialmente nem assumi-la em público. Tenho que esconder os nossos casos, acasos e romances. Escondo também as crônicas, as fábulas, as cartas, as poesias, as dissertações...
Ela é a Palavra, ela é aquela que me domina, ela é aquela que nunca deixa que eu desvende qualquer um dos seus incontáveis mistérios.


terça-feira, 14 de abril de 2009

Eu sei que vou te amar


E agora é como se todas aquelas lembranças que há muito tempo estavam esquecidas retornassem mais fortes e nítidas do que nunca. Lá estava eu, com uns 4 ou 5 anos de idade, contando ansiosamente cada segundo que faltava até o final de semana. Pra quê tudo isso? Só para poder visitar os meus avós e a famosa tia Bia. Dez anos se passaram desde aquela época e hoje, aos quinze anos de idade, ainda não compreendo o mistério que aquela casa tem. Construção simples, bairro simples, pessoas ainda mais simples. O aroma, porém, é como o de um daqueles perfumes sofisticados e caros que, vai entender, sempre impregnam e contagiam todo e qualquer lugar. O sabor é forte e viciante como o da cachaça mais pura que, mesmo sem nunca ter provado, você sabe que é de qualidade.
Apesar disso, nenhum dos sentidos é capaz de captar algo mais puro do que a essência dos moradores da casa de número 5. Vô, vó e tia. Um amor tão puro e três corações tão imensuravelmente generosos que imortalizam dentro de mim cada um dos minutos que passei com eles. As viagens para o sítio onde passávamos o São João, os fogos de artifícios comprados nas feiras e nas barraquinhas da estrada, as fogueiras e os milhos assados. Toda a paciência da tia, o zelo da avó e a descontração do avô, sempre com um sorriso no rosto e uma piada guardada no bolso.
Ah, como eu amo vocês, meus coroas. Donos do mesmo sangue que corre em minhas veias, do mesmo caráter que existe em minha alma e de todo o amor que eu tenho em meu coração. E são por esses e por milhares de outros motivos que me orgulho de amar e ser amada por vocês e de poder dizer cada uma dessas palavras com vocês aqui, ao meu lado.
Por toda a minha vida vou te amar, Leandro, Nina e Bia.

domingo, 12 de abril de 2009

Eu amo, tu amas, ele não me ama


"Como pode ser gostar de alguém
e esse tal alguém não ser seu?"
Amado - Vanessa da Mata


Cruel. Eis um adjetivo que poderia descrever com precisão um amor não correspondido. Ainda pior do que ser cruel, porém, é ser uma unanimidade. Quem nunca passou por uma situação dessas que atire a primeira pedra, mas já sabendo que não está, nem de longe, vacinado contra esse mal que cedo ou tarde acaba atingindo e magoando a homens e mulheres de todas as idades. Como você passará por esse triste (e mais comum do que parece) episódio, porém, é outra história - e, apesar de todos os apesares, o desenvolvimento e o final são sempre escritos por você.
O que acontece, no geral, é que os fatos são sempre os mesmos: você gosta da criatura e planeja um lindo final feliz para vocês; a criatura, no entanto, resolve se apaixonar por outra pessoa ou simplesmente insiste em não ver que você está mandando sinais de fumaça bem ao lado dela e fazendo de tudo para ser notado. E então você percebe que o final feliz não vai ser tão feliz assim, pelo menos não para você. Será? Embora temperar tais fatos com doses extras de esperança, sonhos e ilusões não seja a melhor das soluções - afinal já diziam: quanto maior a altura, maior a queda -, desesperar-se e achar que tudo está perdido não são as atitudes mais apropriadas.
O amor, tão complexo e indescritível quanto o verbo amar, é questão de sorte, de tempo, de vida. É preciso maturidade para saber as respostas para questões básicas que, apesar de conhecidas por todos, dificilmente são compreendidas quando não se frequentou a melhor dentre todas as instituições de ensino: a escola da vida. Requer tempo e experiência para que você entenda que não é aprisionando o outro que você o terá por perto, que nem sempre seremos correspondidos e que o verdadeiro amor é eterno e, preste bastante atenção nessa palavra, recíproco.
Por isso, embora nem sempre o nosso esforço pelo afeto da pessoa amada seja bem recompensado e acabe transformando "cruel" e "amor" em sinônimos, de nada adianta o desespero, o chororô e muito menos os inúmeros "a minha vida perdeu o sentido". Desperdício puro. Acredite: se a sua vida está perdendo o sentido é porque você perdeu o seu próprio amor; e, se você ainda não é capaz de amar a si próprio, também não é capaz de amar a mais ninguém.
A dorzinha de cotovelo e o gostinho de "por que não eu?" existem e vão existir sempre. O que não é válido, entretanto, é achar que amar é a mesma coisa que estar amando, até porque amar não se conjuga no passado nem muito menos no gerúndio.
•••


Post fajuto. Inspiração tá looonge.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Salvador, 10 de abril de 2009.

Senhor Coelhinho da Páscoa,

Venho por meio desta fazer uma pergunta que há muito tempo mantenho guardada só para mim: o que trazes para mim, afinal de contas? Porque, até onde eu saiba, o senhor nunca me deu absolutamente nada. Não que eu estivesse esperando por um daqueles ovos trufados número 100, mas devo admitir que tinha esperança de que essa Páscoa pudesse ser diferente. Sim, senhor Coelhinho, é aquela velha história de que a esperança é a última que morre... A propósito, nem sei se ainda devo acreditar nela. Depois de uma curta - porém sofrida - vida sem família, sem casa e sem afeto você até que acaba se acostumando, sabe? Pois é, eu me acostumei. Pouco a pouco, comecei a me desiludir e a perceber que a esperança pode até não ser, de fato, a última a morrer, mas ao menos morrerá depois de mim: mais uma criança abandonada que está morrendo de fome, de sede e de frio.
Enfim, senhor Coelhinho, boa Páscoa para você e para os poucos privilegiados que sabem o que é um ovo de chocolate, uma ceia e o verdadeiro espírito da semana santa.
Atenciosamente,

. Uma das tantas crianças sem rosto desse Brasil.

•••

Em uma tentativa de adoçar um pouquinho a vida daqueles que já perderam as esperanças de uma vida mais doce, acabei comprando três ovos de chocolate. Não eram Ferrero Rocher, mas espero que sirva.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Entrelinhas na telinha

Assim como nas suas novelas de enredos batidos, a televisão também é feita de papéis que, dependendo da aceitação do público e do consequente lucro, podem se transformar em protagonistas ou em figurantes que passam despercebidos. Em um mundo tão cego e alienado pelo supérfluo, porém, trocar gato por lebre e cultura por propaganda tornou-se cada vez mais comum.
Dessa forma, o papel social da TV, muito longe de ganhar uma vaga no elenco principal, acabou entrando em decadência e sendo posto em segundo plano. Embora existam, sim, exceções, o entretenimento saudável e de qualidade destinado à família e à cultura vem se tornando cada vez mais raro na TV aberta, sendo substituído pelos programas de fofoca e pelas novelas do horário não tão nobre assim, sempre recheadas de propagandas subliminares que nos vendem itens desnecessários, mas que passamos a desejar intensamente.
A população carente de educação sistematizada, por sua vez, pouco sabe sobre os tais aspectos sociais e culturais que a televisão deveria vir a assumir. Assim sendo, a falta de opções acessíveis aliada à ignorância fazem dessa massa popular e sem instrução as maiores vítimas do pseudo-entretenimento proporcionado pelas emissoras.
Apesar disso, censurar todo e qualquer meio de comunicação não é nem de longe a solução mais eficaz e pacífica para tal problema, pois, como diria Voltaire, "posso não concordar com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo". O que precisamos, de fato, é uma educação de qualidade e que dê a nossa população o dissernimento para perceber a diferença entre cultura e a alienação presente em cada entrelinha da telinha.

Tema: A responsabilidade social da TV e a volta da censura nos meios de comunicação.

•••

Sabe aqueles presentes que, embora não sejam caros, ganham um valor imenso? Pois é. Hoje recebi DOIS deles, acredita? Primeiro Lara alegrou o meu dia quando me deu um caderno com a seguinte dedicatória:
"Meu amor :)
Quero que aqui vc escreva os melhores dentre os seus textos. Que um dia eles sejam reconhecidos e que o mundo possa desfrutar do seu talento. *-*
Quando vc for famosa, lembre da sua amiga que te ama DEMAIS! ^^
Ao seu sucesso!
Beijos, Lah Galvão.
02.04.09"
Acho que nem ela tem noção do quanto me deixou feliz com o presente. Enfim, como se não bastasse, a minha Pequena ainda me deu uma pulseira do Bahia que ela mesma fez. Muito fofa, é sério. Me senti como uma criança de 5 anos ao colocá-la no pulso. Simplesmente adorei, e digo isso do fundo do meu coração.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Só pra descontrair

E no meio de mais uma aula de matemática...
- Professor, você sabe o que significa diadelfo?
- Claro que sei.
- O que significa?
- Contração para dia do elfo, tá ligado?
UAHSUAHSUAHSUAHSUAHSUAHSUA

Na boa, o tempo passa e a capacidade de falar besteira que o Assis tem só me impressiona. Acho que é mal de professor de matemática. Só pode. Bit era outro que vivia falando merda. Lembro de quando ele escreveu no quadro e perguntou a Quirino, um aluno baixinho, mas um tanto quanto pertubado, se ele nunca havia lido aquilo antes:

u u u u u u
BBB
BBBB
BBBBB
BBBBBB
U U U U U U

Quirino: Não, Bit.
Bit: Pois devia. U's pequenos B descem U's grandes, entendeu? Portanto, me respeite, seu tampinha.

Sou muito lerda por rir dessas bobagens? :x Aaaah! Fiz uma tirinha numa noite qualquer enquanto estava quase desmaiando de sono. Quase ninguém entendeu, mas eu dou quilos de risadas toda vez que leio. Eu sou idiota, eu sei. Só sei que qualquer dia desses escaneio e posto só para ver se alguém entende.
Enfim, post completamente inútil, mas eu tinha que registrar essas pérolas do dia-a-dia.
P.S.: Ellen, Antônio Jorge e Rosemarie ainda me matam com essas provas - e, se eles falharem, aquela farda me mata de calor.
P.S.S.: EU PRECISO DORMIIIIIIIR!