"Sou uma mulher madura que às vezes anda de balanço
Sou uma criança insegura que às vezes usa salto alto
Sou uma mulher que balança, sou uma criança que atura."

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Fastidiosa e prolixa

É incrível como algumas coisas passam despercebidas na correria do dia-a-dia, né? Às vezes me pergunto se a culpa é desse ritmo frenético em que nós vivemos ou se sou eu que não ando ligando muito para os detalhes que fazem das diferenças algo realmente importante.

Somos feitos de quem amamos. Por quanto tempo essa frase ficou no subnick do Peu, hein? Muito tempo. Não sei ao certo os números – estava ocupada demais prestando atenção no que não é detalhe -, mas isso não importa. O fato é que esse trechinho ficou por semanas, quiçá meses, me encarando e eu o deixei passar despercebido.

Hoje, no entanto, parei pra reparar nele. Minto. Eu fui obrigada a parar para reparar na vida, de um modo geral, e a frase veio só como conseqüência. E quem me obrigou a reparar foi você, pequena. Você e as suas palavras que, ao contrário das minhas, nunca são fastidiosas. Não para os meus olhos.

Foi lendo a sua carta e chorando um choro sincero que eu compreendi o quanto essa frase é verídica. Somos feitos de quem amamos e nada mais. Ossos, músculos e órgãos são só ossos, músculos e órgãos. Quem amamos, não. Quem amamos é que dá sustento, dá movimento e faz pulsar a vida.

De qualquer forma, permita-me, pequena, que eu seja um pouco mais prolixa e fastidiosa e comece pelo começo, que é como eu deveria ter feito. Prometo não te incomodar muito dessa vez, tá? Juro que não serão seis páginas de cansaço em forma de letras. Tá, sem mais justificativas, só queria ter começado assim:


“Oi, minha pequena moradora do asteróide B 612! Já li a sua carta, tá? Assim que cheguei em casa, esvaziei os bolsos e fui pro banheiro com as duas folhas de caderno em mãos – algo me dizia que eu iria querer lê-las longe dos olhares curiosos e dos questionamentos acerca do motivo do meu choro.

Droga, falei demais. Não era para eu ter mencionado a parte do choro ainda, mas deixa pra lá. Agora que você já sabe, não adianta fazer mistério: sim, pequena, eu chorei. Mas chorei um choro tão diferente que nem eu entendo, sabe? A garganta doeu, mas foi uma dor adocicada, com gostinho de quero mais, entende? Não, você não deve entender. Acho que ninguém entende o gosto de nostalgia com recheio de saudade e cobertura de admiração. Isso sem falar no confeito, que era de felicidade por poder ler palavras tão lindas vindas de uma pessoa ainda mais linda.

Foi um choro breve e incontrolável, pequena. Um choro que me fez rir e dizer bem baixinho: “Caramba, como ela é abestalhada!”. E então, depois do riso, eu peguei a carta e beijei, molhando-a com algumas lágrimas. Manchou, mas acho que foi bom. Marcou no papel o que tinha ficado marcado no coração.

Ah, o choro... Quem me dera poder chorá-lo de novo, Fona.

Te amo!”


É. Era assim que eu queria ter feito, Fona! Um texto bem curtinho só para que você soubesse como foi ler sua carta. Só para que você soubesse que seria a ela que eu iria recorrer quando estivesse triste e sem forças para escrever ou falar.

Acontece, porém, que, só para variar, eu nunca consigo escrever do jeito que eu quero. As palavras se desordenam e quando eu vejo, puff!, já está tudo fora do lugar. Fora do lugar e ocupado um lugar maior do que deveria, inclusive.

Mas às vezes isso até que é bom, sabia? Agora, por exemplo, eu acho que eu realmente precisava te dizer quantas coisas a sua carta me fez perceber. Lendo-a eu pude ter a certeza de que nós nunca nos tornamos eu e você apenas. Nunca deixei de ser nós para ser só Fernanda.

Você faz parte de mim, Rafaella. Parte da minha personalidade foi construída com a sua ajuda. Parte do meu caráter foi consumado com a sua ajuda. Parte de mim foi e ainda é você, Finha. E sabe por quê? Porque somos feito de quem amamos e nada mais. Enquanto isso for fato, e eu estou certa de que será sempre, tenha certeza de que eu nunca deixarei de ser nós para ser só Fernanda. Não, Fona. Isso seria impossível.


Ah, o choro... Quem me dera poder chorá-lo de novo.



Semana de provas. :\