"Sou uma mulher madura que às vezes anda de balanço
Sou uma criança insegura que às vezes usa salto alto
Sou uma mulher que balança, sou uma criança que atura."

domingo, 28 de março de 2010

Educação e Pimenta

E era inegável que ela era boa com os lábios:
além da lábia mortal, era na boca que carregava as suas duas maiores armas
– o sorriso angelical e o gostinho pelo suicida.


Antes de qualquer coisa, deixe-me fazer as honras da casa – ou qualquer que seja o lugar.
Refiro-me às apresentações, é claro. Embora insistam em dispensá-las, considero-as essenciais. Poupam o meu tempo, se quer saber. Saciam prematuramente a curiosidade daqueles que, no decorrer da história, viriam a lançar questionamentos tolos sobre aquela que vos conta os fatos. Todavia eu relevo, pois creio que tudo isso faz parte da vã necessidade humana de checar a veracidade e, sobretudo, a confiabilidade das fontes – como se adiantasse.
O fato supracitado é que não dispenso as apresentações por uma questão de educação. Antes que me perguntem, já afirmo: sim, definitivamente eu sou educada. Só não venha me dizer que meus princípios são errôneos. Não, isso nunca. Todos os meus conceitos foram internalizados com louvor e, principalmente, com liberdade – e vocês, meros mortais, costumam confundir a verdadeira liberdade com a falta de educação. Liberdade e maus modos, porém, não têm absolutamente nada em comum.
O que dá margem aos equívocos, contudo, é que a minha educação é liberalmente temperada e ácida – daquelas que queimam a língua e corroem a pele. Vem com bastante pimenta, dá azia e faz mal ao estômago, se é que me entende. Vez ou outra, inclusive, pode até mesmo perfurá-lo e atravessá-lo com uma espada ou com um tiro de revólver. Minto. Não usam mais espada nos dias de hoje, o que é uma grande tristeza para mim. Sinto falta do brilho metálico da lâmina afiada, em especial quando já estava manchada pelo vinho tinto do sangue. Era mais glamouroso, se quer saber o que acho. Despertava a minha volúpia.
Nostalgias à parte, o que acontece é que a minha liberdade é particular, complexa, abstrata. Embora seja nua e crua, vez ou outra se veste com idéias e valores à prova de bala. Não tem hipocrisias nem clichês, apenas fatos. É única e livre de burocratas engravatados para me dizerem o que devo ou não fazer. É bandida, praticamente sem regras. Digo praticamente porque ela segue a lei da vida, quase sempre impulsionada pelo rancor e julgada pelo perfeccionismo da sua frieza puramente calculista. Minha liberdade beira a insanidade.
O que realmente importa, mortal, é que a educação que recebi preza pela liberdade e pela manifestação da alma humana no seu estado bruto, cruel e selvagem. Portanto, não se atreva a questionar os meus modos – até porque eles são meus e não seus.


Ainda não sabe quem eu sou? Talvez uma ou duas dicas bastassem, mas, devo admitir, ainda duvido da capacidade intelectual humana, com raríssimas exceções.
Isso soou mal educado? Perdão. Desde já peço desculpas pela minha sinceridade, que, a propósito, é mais uma característica minha. Pois é, eu sou extremamente sincera. Arriscaria até mesmo dizer que sou a mais sincera dentre todas as criaturas que você já conheceu.
A verdade é que eu sempre enxergo as coisas do mais sincero dentre todos os pontos de vistas – o da fraqueza humana, que quase sempre leva ao ódio, que, por sua vez, leva os menos covardes até mim.
Sou eu quem passa por dentro da sua cabeça nos seus momentos mais decisivos - aqueles que pedem a tua calma. Ah, a calma... Eis uma característica insossa que eu nunca tive. Não que eu faça questão, é claro. No meu trabalho, o que dá gosto e qualidade é a pressa. A fome, a sede, o desespero, a dor. São eles que me acentuam e tornam o meu trabalho tão prazeroso – um quase orgasmo múltiplo pingado no ar juntamente à certeza de uma noite mais saborosa de sono.
Sem mais divagações, serei breve. Responderei as suas dúvidas e pouparei os seus poucos neurônios: eu sou você, seu amigo, seus pais. Eu estou dentro de você, dos que sofrem, dos que sentem. Eu sou tudo e todos, eu sou complexa e tão simples quanto alguém pode ser.
Eu sou vulcão, ventania, vórtice. Eu sou a volúpia, a vontade, o vigor e o vício dos que me validam. Sou vulgar, vaidosa, vilã. Sou vital, vultosa, vistosa e vívida. O vislumbre, a voltagem e as vísceras dos que me vêem como virtude. Eu sou valiosa, vagarosa e, sobretudo, verossímil. Só não sou vítima. Não, isso eu não sou nunca.
Eu sou a Vingança e estou aqui para contar-lhe a história de uma humana que, diferentemente da maioria, tinha mais do que meia dúzia de neurônios e soube me usar. Estou aqui para contar-lhe a história de um dentre os tantos seres que me alimentaram com um banquete de mágoas, deixando-me ainda mais forte e preparada para consumir cada milímetro dos seus corpos cheios de pecados.
Fique à vontade para vir comigo. Quero lhe mostrar o que vocês, humanos, têm de mais podre...

***
Continua...

Quem sabe tomo coragem para, quem sabe um dia, terminar de escrever. haha

De porcelana e aço

Delicadeza de porcelana
Enfeita-lhe o traço
Mas, óh, quem diria?!
Na composição também tem aço!

Jeito doce feito anjo
Sorriso bobo de palhaço
Mas, óh, quem diria?!
Na composição também tem aço.

Alma reluzente de esperança
O coração lhe ocupa muito espaço
Mas, óh, quem diria?!
Na composição também tem aço...

A meiguice dos pequeninos
Compactada no tamanho do meu abraço
Mas, óh, quem diria?!
Na composição também tem aço?

Sim!
Tem aço, tem ferro, tijolo e concreto
Força de mulher, força de guerreira
Batalhas, vitórias, destino:
Ela rabisca tudo na cabeceira
*

Para a boneca de porcelana mais resistente que eu conheço. (L)
Juro que tentei, Doll.

domingo, 21 de março de 2010

"O tempo da cura tornou a tristeza normal"

— Cadê você? Por que foges de mim desse jeito? - Perguntou desesperada.

A urgência fazia-se presente em cada detalhe sórdido que a voz da garota deixava transparecer. A resposta, porém, foi cruel e irredutível: não veio. Bem lá no fundo ela sabia desde o começo que não viria. A Inspiração havia, sim, deixado-a - e, pelo menos por enquanto, parecia ser algo definitivo.

Deixou-se perder, então, nos seus devaneios. Por que estava assim, afinal? Por que as Palavras já não obedeciam aos seus comandos e resistiam a decorar o papel? Desta vez, no entanto, obteve uma resposta de si mesmo. O seu íntimo sabia exatamente o porquê da falta de Inspiração.

A verdade é que faltava-lhe o amor e, ao contrário do que acontecia antes, a força do hábito havia lhe cruzado os braços. A ferida, que antes doía e dava margem às ilusões, coagulara. A marca, contudo, permanecera - e incomodava sempre que a Falta refletia no espelho.

***

Já que não escrevo por falta de inspiração, que o faça, então, por excesso de disciplina. A partir de hoje vai ser assim, na base da ditadura: ou escrevo ou escrevo, e se uma terceira opção ameaçar aparecer, mato na base da borracha.

***

Ando devendo resposta aos comentários, né? É tempo. Respondo ainda essa semana, quando voltarei para postar algo novo.
Aliás, falando em algo novo, tô querendo mudar o nome do blog. Queria um nome que permitisse mudanças e não limitasse o estilo. Pensei em usar o meu nome (que, pelo menos para quem me conhece, deve ser sinônimo de instabilidade), mas ando cheia de xarás na Blogosfera. Alguém tem alguma sugestão de sobrenome? Preciso me batizar. haha