"Sou uma mulher madura que às vezes anda de balanço
Sou uma criança insegura que às vezes usa salto alto
Sou uma mulher que balança, sou uma criança que atura."

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Avante!

      E eu, que há muito não vivia, pude, enfim, viver. Pude, enfim, descomplicar, desenrolar, desopilar. Livre como quem acabou de lavar a alma e cantar alto no banho. Leve como quem acabou de levar a melhor e, mesmo pouco religiosa, teve a certeza de que Deus desenha a caligrafia na hora de escrever torto só pra suavizar os desencontros.
      E eu, que há muito havia me desencontrado de mim, pude, enfim, me reencontrar. Pude, enfim, reaver o ânimo, a coragem, a vontade de ser só e de ser muito mais do que já sou. Forte como quem apanhou, mas levantou para enfrentar as vaias ou para sentir o gosto das palmas – tanto faz. Firme como quem acabou de firmar um compromisso consigo mesma: pra frente é que se anda, ainda que devagar.
      E eu, que há muito divagava, pude, enfim, guiar. Pude, enfim, me alforriar de mim, libertar meus medos, assumir meus modos. Ereta como quem tomou as rédeas e, a chicotadas, fez a felicidade não mais arredar. Torta como quem cansou de só acertar.

      E eu, que há muito te amava, pude, enfim, me amar. Pra sempre.
 
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"Don't be afraid to let the drama play out."
Sim, voltei. :)
 
 
 
 

terça-feira, 8 de março de 2011

Madrugada

Pára, pára. Se acalma, vai. Fecha os olhos, respira bem fundo contando até dez e tenta lembrar do que foi bom. Lembra, também, do que ainda há de ser bom. Bem lá no fundo nós sabemos que basta só um pouquinho de paciência para chegarmos lá - no felizes para sempre. Pensa um pouquinho nos planos, nas viagens, nos tablitos e no Pablo. Ele não quer pais separados, não. Não é saudável.

Pára, pára. Se acalma, vai. Tenta entender sua namorada neurótica e compreender que a inquietação e a curiosidade são intrínsecos a mim. Foi o que restou do sonho de ser jornalista que eu mesma destruí. E aí deu nisso: essa vontade incontrolável de saber de tudo - e saber agora! Não tenho culpa de ter sido tão mimada quando criança e ter virado isso que sou.

Pára, pára. Se acalma, vai. Tira da cabeça essa idéia de pôr fim ao que ainda só tá começando. Esquece essa idéia estúpida e precipitada de transformar o "nós" em "eu e você". Até porque, você sabe, não seria fácil assim: a caixinha e a minha voz no fim do corredor continuariam a te atormentar, como fantasmas de um tempo bom. Esquece isso, vai. Aborta essa missão.

Pára, pára. Se acalma, vai. Eu errei, mas tenta recordar o que a Bíblia e tantos outros já disseram: "O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta". Lembra, ainda, dos que disseram alguma máxima clichê sobre a perseverança de não desistir sem lutar. Ou, se preferir, busca ajuda na sua própria academia. Tantos músculos não combinam com a covardia de desistir de quem se ama, afinal. Pelo menos não assim, tão facilmente.

Pára, pára. Se acalma, vai. Me diz o que te aflige e escuta o que eu tenho a dizer. Justo eu, que sempre tenho tanto a dizer... Não me cala agora, não. Não me deixa sem palavras, sem inspiração. Acalma sua alma inquieta e vem procurar refúgio onde você certamente achará. Bandeira branca, vai. É tão ruim brigar contigo...

Pára, pára. Se acalma, vai. Se acalma que os motivos já nem preciso dizer: eu amo tanto você...

"As coisas vão dar certo. Vai ter amor, vai ter fé, vai ter paz – se não tiver, a gente inventa."

(Caio Fernando Abreu)