"Sou uma mulher madura que às vezes anda de balanço
Sou uma criança insegura que às vezes usa salto alto
Sou uma mulher que balança, sou uma criança que atura."

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A Primeira Vez - Parte 1

― É isso – o rapaz suspirou e mexeu os ombros displicentemente. – Não posso demorar, de qualquer forma. Ela está me esperando para seguirmos até o aeroporto – o tom desprovido de qualquer remorso e as suaves depressões ao lado do sorriso surgiram para terminar de matá-la.
O rosto da mulher, antes tão corado, perdeu o seu rosa característico. Talvez fosse culpa do vinho tinto do sangue que já não lhe corria pelas veias quase tão estreitas quanto a garganta entrelaçada e ressequida.
Ela tentou falar, mas a voz já não saía. Queria implorar para que ele ficasse ou ainda para usufruir de cada pedaço da culpa por ter sido tão cruel consigo mesma ao provocar a sua própria desgraça – egocêntrica até em um momento desses. Desgraça essa, porém, que nunca se igualou ao sofrimento, agora já enterrado pelo passado, dele. Ela queria pedir uma última e derradeira chance para rir cada riso e chorar cada choro daquele que seria para sempre a sua melhor companhia. Chorar cada riso dele? Minto. Por mais que os motivos para chorar sempre tenham sido colecionados por ele, era ela que sempre contava com a solidariedade do amigo para dividir as suas tristezas egoístas.
― Uhun – o grunhido sofrido foi tudo que saiu da sua boca seca. Os pedidos de fique mais e o gosto amargo do adeus: tudo engolido mesmo antes de ser posto para fora. Aborto, dor, morte prematura.
E o que fazer quando falta a voz, o som? Em casos extremos, entregue-se ao silêncio, ao abismo sem fim das palavras vomitadas no mute. Foi o que ela fez: tornou-se mais uma refém quase que pacífica e finalmente se rendeu às palavras.
As lágrimas, há muito congeladas pela frieza do coração, ameaçaram derreter. Em tempos vindouros ela teria culpado o aquecimento global; sabia, contudo, que o nome do fenômeno da vez era outro: perda. Sim, a perda de quem se ama e o ganho de uma tonelada de arrependimentos para saborear aos pouquinhos. Ganho e perda, perda e ganho. A antítese perfeita que, ao misturar o gosto da falta com o tato desesperado para apanhar o resto de cheiro que ainda pairava pelo ar espaçado do aposento, virou sinestesia pura. Pena que a sinestesia não anestesia os corações partidos...
Procurou forças para se levantar e seguiu. Precisava urgentemente de algo cortante. Algo capaz de fazê-la sangrar e, paradoxalmente, estancar a dor empedrada. Apanhou o lápis mais afiado e iniciou o ritual que adiara por tanto tempo. Com a força de quem já sofreu por amor, perfurou calmamente o papel e, pouco a pouco, as palavras jorraram o que estava entalado.

"Você sempre me disse que sua maior mágoa era eu nunca ter escrito um texto sobre você. Nem que fosse te xingando, te expondo. Qualquer coisa.
Você sempre foi o único homem que me amou. E eu nunca te escrevi nem uma frase num papelzinho amassado."


Primeira parte de uma história inspirada no texto A Primeira Vez, da Tati Bernardi. Se o resto ficar legal, eu continuo postando aqui. (:
Enfim, tinha prometido voltar a postar e, eu sei, acabei sumindo de novo. A questão é que a inspiração anda faltando ultimamente, bem como o tempo. Quem sabe agora ela vem me fazer uma visitinha? :P
Observações:
1) Gabi, voltei porque vi seu recado, haha.
2) Alva, juro que ainda posto o seu texto, tá? É a BRUXA, parça!
3) Responderei os comentários das duas últimas postagens assim que tiver uma oportunidadezinha, ok? (:

9 comentários:

Gabriela Castro disse...

Ahhhh que linda! Desculpe, é que sou fã mesmo ^^
Mesmo você demorando a voltar, sempre vale a pena esperar.
Adoreeeeei!
beeeijo

Marina Menezes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marina Menezes disse...

Agora quero entender como a tragédia foi montada *-*
Fernanda, você é muito inteligente. Seu vocabulário, o modo como você ordena as ideias...
Eu gostei, e realmente quero que se esclareça a dor.
Aguardo uma continuidade !
Beijos ;*

Sofia disse...

'eu sempre visito os blogs pra avisar o que tá acontecendo no meu blog e tal. mas hoje eu vou fazer diferente, afinal todos querem ter os seus textos lidos e compreendido. desculpa se alguma vez te enchi a paciência pedindo comentários e tal.'
vai ficar legal com certeza fernanda e VAI dar certo. vou vim ler o resto dps.
beeijos,
Sofia

Érica Ferro disse...

Ah, eu gostei muito do começo dessa história.
E como a Marih disse: "Fernanda, você é muito inteligente. Seu vocabulário, o modo como você ordena as ideias..."

Concordo com ela. ;D
Beijo, Fernanda.
Espero que você apareça logo. :**

mari disse...

Perfeito!!!
Quero ler o restante, vou torcer para a inspiração voltar.
bj

Tais Cruz disse...

Se depender de IBOPE, pode seguir. Estou adorando!

Um beeeeeeijo =*

Lua Morena disse...

Uau *-*

Sofia disse...

olá, tudo bem ?
passando pra avisar que postei uma homenagem ao meu pai e para todos os pais. E, aproveitando, um feliz dia dos pais pro seu pai amanhã !
beeijos,
Sofia
(http://pirulito-no-palito.blogspot.com/)