― É isso – o rapaz suspirou e mexeu os ombros displicentemente. – Não posso demorar, de qualquer forma. Ela está me esperando para seguirmos até o aeroporto – o tom desprovido de qualquer remorso e as suaves depressões ao lado do sorriso surgiram para terminar de matá-la.
O rosto da mulher, antes tão corado, perdeu o seu rosa característico. Talvez fosse culpa do vinho tinto do sangue que já não lhe corria pelas veias quase tão estreitas quanto a garganta entrelaçada e ressequida.
Ela tentou falar, mas a voz já não saía. Queria implorar para que ele ficasse ou ainda para usufruir de cada pedaço da culpa por ter sido tão cruel consigo mesma ao provocar a sua própria desgraça – egocêntrica até em um momento desses. Desgraça essa, porém, que nunca se igualou ao sofrimento, agora já enterrado pelo passado, dele. Ela queria pedir uma última e derradeira chance para rir cada riso e chorar cada choro daquele que seria para sempre a sua melhor companhia. Chorar cada riso dele? Minto. Por mais que os motivos para chorar sempre tenham sido colecionados por ele, era ela que sempre contava com a solidariedade do amigo para dividir as suas tristezas egoístas.
― Uhun – o grunhido sofrido foi tudo que saiu da sua boca seca. Os pedidos de fique mais e o gosto amargo do adeus: tudo engolido mesmo antes de ser posto para fora. Aborto, dor, morte prematura.
E o que fazer quando falta a voz, o som? Em casos extremos, entregue-se ao silêncio, ao abismo sem fim das palavras vomitadas no mute. Foi o que ela fez: tornou-se mais uma refém quase que pacífica e finalmente se rendeu às palavras.
As lágrimas, há muito congeladas pela frieza do coração, ameaçaram derreter. Em tempos vindouros ela teria culpado o aquecimento global; sabia, contudo, que o nome do fenômeno da vez era outro: perda. Sim, a perda de quem se ama e o ganho de uma tonelada de arrependimentos para saborear aos pouquinhos. Ganho e perda, perda e ganho. A antítese perfeita que, ao misturar o gosto da falta com o tato desesperado para apanhar o resto de cheiro que ainda pairava pelo ar espaçado do aposento, virou sinestesia pura. Pena que a sinestesia não anestesia os corações partidos...
O rosto da mulher, antes tão corado, perdeu o seu rosa característico. Talvez fosse culpa do vinho tinto do sangue que já não lhe corria pelas veias quase tão estreitas quanto a garganta entrelaçada e ressequida.
Ela tentou falar, mas a voz já não saía. Queria implorar para que ele ficasse ou ainda para usufruir de cada pedaço da culpa por ter sido tão cruel consigo mesma ao provocar a sua própria desgraça – egocêntrica até em um momento desses. Desgraça essa, porém, que nunca se igualou ao sofrimento, agora já enterrado pelo passado, dele. Ela queria pedir uma última e derradeira chance para rir cada riso e chorar cada choro daquele que seria para sempre a sua melhor companhia. Chorar cada riso dele? Minto. Por mais que os motivos para chorar sempre tenham sido colecionados por ele, era ela que sempre contava com a solidariedade do amigo para dividir as suas tristezas egoístas.
― Uhun – o grunhido sofrido foi tudo que saiu da sua boca seca. Os pedidos de fique mais e o gosto amargo do adeus: tudo engolido mesmo antes de ser posto para fora. Aborto, dor, morte prematura.
E o que fazer quando falta a voz, o som? Em casos extremos, entregue-se ao silêncio, ao abismo sem fim das palavras vomitadas no mute. Foi o que ela fez: tornou-se mais uma refém quase que pacífica e finalmente se rendeu às palavras.
As lágrimas, há muito congeladas pela frieza do coração, ameaçaram derreter. Em tempos vindouros ela teria culpado o aquecimento global; sabia, contudo, que o nome do fenômeno da vez era outro: perda. Sim, a perda de quem se ama e o ganho de uma tonelada de arrependimentos para saborear aos pouquinhos. Ganho e perda, perda e ganho. A antítese perfeita que, ao misturar o gosto da falta com o tato desesperado para apanhar o resto de cheiro que ainda pairava pelo ar espaçado do aposento, virou sinestesia pura. Pena que a sinestesia não anestesia os corações partidos...
Procurou forças para se levantar e seguiu. Precisava urgentemente de algo cortante. Algo capaz de fazê-la sangrar e, paradoxalmente, estancar a dor empedrada. Apanhou o lápis mais afiado e iniciou o ritual que adiara por tanto tempo. Com a força de quem já sofreu por amor, perfurou calmamente o papel e, pouco a pouco, as palavras jorraram o que estava entalado.
Você sempre foi o único homem que me amou. E eu nunca te escrevi nem uma frase num papelzinho amassado."
Primeira parte de uma história inspirada no texto A Primeira Vez, da Tati Bernardi. Se o resto ficar legal, eu continuo postando aqui. (:
Enfim, tinha prometido voltar a postar e, eu sei, acabei sumindo de novo. A questão é que a inspiração anda faltando ultimamente, bem como o tempo. Quem sabe agora ela vem me fazer uma visitinha? :P
Observações:
1) Gabi, voltei porque vi seu recado, haha.
2) Alva, juro que ainda posto o seu texto, tá? É a BRUXA, parça!
3) Responderei os comentários das duas últimas postagens assim que tiver uma oportunidadezinha, ok? (:
9 comentários:
Ahhhh que linda! Desculpe, é que sou fã mesmo ^^
Mesmo você demorando a voltar, sempre vale a pena esperar.
Adoreeeeei!
beeeijo
Agora quero entender como a tragédia foi montada *-*
Fernanda, você é muito inteligente. Seu vocabulário, o modo como você ordena as ideias...
Eu gostei, e realmente quero que se esclareça a dor.
Aguardo uma continuidade !
Beijos ;*
'eu sempre visito os blogs pra avisar o que tá acontecendo no meu blog e tal. mas hoje eu vou fazer diferente, afinal todos querem ter os seus textos lidos e compreendido. desculpa se alguma vez te enchi a paciência pedindo comentários e tal.'
vai ficar legal com certeza fernanda e VAI dar certo. vou vim ler o resto dps.
beeijos,
Sofia
Ah, eu gostei muito do começo dessa história.
E como a Marih disse: "Fernanda, você é muito inteligente. Seu vocabulário, o modo como você ordena as ideias..."
Concordo com ela. ;D
Beijo, Fernanda.
Espero que você apareça logo. :**
Perfeito!!!
Quero ler o restante, vou torcer para a inspiração voltar.
bj
Se depender de IBOPE, pode seguir. Estou adorando!
Um beeeeeeijo =*
Uau *-*
olá, tudo bem ?
passando pra avisar que postei uma homenagem ao meu pai e para todos os pais. E, aproveitando, um feliz dia dos pais pro seu pai amanhã !
beeijos,
Sofia
(http://pirulito-no-palito.blogspot.com/)
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