"Sou uma mulher madura que às vezes anda de balanço
Sou uma criança insegura que às vezes usa salto alto
Sou uma mulher que balança, sou uma criança que atura."

quarta-feira, 4 de março de 2009

Querido diário...

É, querido diário, os tempos mudaram. As suas páginas, antes coloridas e marcadas por inúmeras lágrimas e sorrisos, estão amarelando e sendo substituidas por fotologs, blogs, páginas da web e todo esse monte de palavras complicadas, bonitinhas e, principalmente, importadas. Os diários de "carne e osso" que ouviram pacientemente cada uma das nossas confidências, sem reclamar uma única vez sequer, por tanto tempo, foram substituídos. Que papelão, hein? Jogar para o banco de reservas justamente aquele que nos ouviu sem reclamar, que nos acalmou, que nos consolou... Mas o ser humano é assim mesmo. Ô bichinho egoísta, viu? Só quer saber de progredir, progredir, progredir... E, como se não bastasse, muitos ainda têm a memória curta. Você ajuda hoje e amanhã ele nem lembra o seu nome. Humildade e gratidão estão tão arriscados de extinção quanto político decente. E quem nunca "serviu de agulha para uma linha ingrata" que atire a primeira pedra...
Só sei que é assim que as coisas funcionam. A carta perdeu o lugar para o e-mail, o diário perdeu o lugar para os blogs, o coração perdeu o lugar para a pedra. Mas, apesar disso tudo, não condeno a tecnologia, não. Graças a ela conheço muita gente que nunca teria conhecido, faço muita coisa que nunca poderia ter feito e, embora não tenha nenhum link que libere o cheiro daquela pessoa ou que nos permita tocar no ingresso daquela festa, é aqui que muita gente extravasa quando o bicho pega. A verdade é que a internet tá aí firme, forte e a nossa disposição sem que tenhamos de carregá-la para cima e para baixo. Praticidade, conforto, comididade. Bem lá no fundo é isso que todos nós buscamos. O por quê? Vai entender... Na certa todo aquele papo de que é a curiosidade que nos move seja só... papo. Vai ver, o que nos move, de fato, é esse pecado que já nos é tão familiar nos tempos de hoje: p r e g u i ç a. Sempre tentando poupar trabalho e ganhar um tempinho, até porque tempo é dinheiro e de avarento e de louco todo mundo tem o pouco - quanto aos nossos outros lados, bem, esses devem estar escondidos por detrás de alguma daquelas ferramentas que o Google vive criando. Falando em Google, ainda boto fé que qualquer dia desses ele ganha vida, pula pra fora do computador e sai por aí trabalhando de detetive sob o codinome de G. Earth Holmes. Enfim, no computador ou não, nos tempos de hoje tudo é assim: completamente descartável e descartavelmente completo. Mil funções que não servem para nada, mas que todos querem ter; mil anos esquecidos para cada novidade momentaneamente lembrada... Iludidos são aqueles que ainda acham que alguma coisa no século XXI é insubstituível. Balela pura. Por mais que você goste e seja apegado, a tecnologia trata de arranjar algum substituto à altura - ou que pelo menos tenha um número de funções maior. E assim a gente vai seguindo, sempre preparado para uma possível substituição. Fazer o que, né? A vida é assim mesmo, querido diário, a vida é assim mesmo... E é por isso que (pelo menos) de você e das suas páginas surradas eu não abro mão. Não, isso nunca.


1 comentários:

Joyci Dias disse...

Eu cada dia MAIS me surpreendo com você! E fico toda boba quando se diz minha fã... eu penso: Meu Deus, como uma pessoa tão abençoada, linda e perfeita pode ser minha fã? Oh. Eu não mereço tanto!
Você sabe que você escreve MUITO bem... me humilha.
Mas realmente, não importa... Ich liebe dich.


Minha baêana. (L)