"Sou uma mulher madura que às vezes anda de balanço
Sou uma criança insegura que às vezes usa salto alto
Sou uma mulher que balança, sou uma criança que atura."

terça-feira, 31 de março de 2009

Brotou de um aborto

Embora não seja capaz de pensar em uma possível solução, assumo que discordo com o método adotado pelas escolas para cobrar dos alunos a produção de textos. Os talentos são, sim, uma exceção à regra, mas idéias, assim como os próprios alunos, precisam amadurecer para que possam atingir o seu ápice.
Como em uma gravidez, o sucesso no desenvolvimento do bebê depende, dentre tantos outros fatores, do tempo que ele se mantêm quentinho e protegido dentro da barriga, apenas esperando pelo momento certo para sair dali e encher a todos de alegrias, tristezas, emoções. Quando ele tem de sair antes da hora, porém, as marcas ficam quase sempre.
Com um texto não é diferente. É preciso deixá-lo de molho, aconchegá-lo dentro da nossa alma e aguardar até que ele se torne inquieto demais para permanecer lá. E é aí que as palavras simplesmente saem e o texto nasce de parto natural: misto de dor e prazer sem bisturis e cicatrizes visíveis - as imperceptíveis sim, essas ficam aos montes reforçando os laços que são criados entre mãe e filho.
Já no parto cesariano tudo muda. A pressão psicológica dos instrumentos cortantes altera o resultado final e sempre deixa aquele gosto amargo na boca e a sensação de trabalho ruim, feito às pressas e que você esqueceu de temperar. Um crescente desgosto toma conta do corpo e demora para ir embora, e, por mais que você deixe essa lembrança jogada em uma canto escuro e empoeirado da memória, a cicatriz fica como um lembrete discreto a te torturar.
Aborto para sobreviver, aborto para não morrer, aborto para expulsar, aborto para dar vida. Esse texto, felizmente, se enrolou no cordão umbilical e, para não morrer, teve de ser abortado imediatamente. Só mais um entre os tantos brotos que brotaram de abortos.

6 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do texto, gostei do blog. Indico o blog.

Ponte Acústica disse...

Gostei do texto, tema sempre delicado.. Parabéns pelo blog ;)

Joyci Dias disse...

É preciso deixá-lo de molho, aconchegá-lo dentro da nossa alma e aguardar até que ele se torne inquieto demais para permanecer lá. (...)

E te acorda na madrugada e te agonia, te deixa inquieta, se mexendo na cama até o lençol sair. E você se ver obrigada a vomitar aquelas palavras que precisam ser colocadas no papel. É quando sua alma grita, berra... pede socorro! :)

Te amo minha Sex.

Joyci Dias disse...

ps: Que orgulho de ter trazido você até esse mundo, estou vendo tanta coisa boa. E quero mais. :)

Peuzão disse...

Muuuito bom *.*
Me identifiquei muito com sua obra.
você tem tudo para se tornar uma escritora de sucesso !*.*
Meus sinceros PARABÉNS !!!

Fernanda L. disse...

Pedro Peu ♥