Olhei pela janela e pude ver o sol brilhando por detrás da vidraça e uma gaivota voando no céu tranquilo e sem nuvens. À primeira vista, achei que ela estava perdida, mas logo percebi que ela só estava livre. Às vezes a liberdade assusta, não? Espanta e te deixa feito uma criança que se perdeu da mãe e só quer voltar para casa.
Fui arrancada dos meus devaneios pelo barulho estridente da campanhia, o presságio imperfeito do que estava por vir. Era ele. Abri a porta e deixei que aquela imagem inundasse os meus olhos: a mala abarrotada de roupas e lembranças empacotadas às pressas deixava a sua face pálida ainda mais melancólica, quase como um poema inacabado a ser decifrado pela metade.
Gesticulei em direção a sala e só então ele entrou. Em dias normais ele não teria esperado pelo quase convite, pois sabia melhor do que ninguém que estava em casa. Agora, porém, a situação havia mudado. Ele estava de partida e ia se mudar para um lugar que oscilava entre o Até Nunca Mais e o Quem Sabe um Dia. Não disse, mas eu sabia que não voltaríamos a nos ver tão cedo. Já podia começar a sentir a saudade correndo nas minhas veias e foi o que fiz: saboreei a obscuridão da falta.
A verdade é que ele era um grande amigo, quase um irmão. Era? Que grande engano! Usar o pretérito ao falar dele era mentir para mim mesma: ele continuava sendo e eu sabia muito bem que seria para sempre. O que seria de mim agora? Quem iria me apoiar, me ouvir, me fazer rir? Queria gritar à plenos pulmões e depois xingá-lo por estar fazendo aquilo comigo. Se eu fizesse isso ele mudaria a sua decisão? Podia proibí-lo, prendê-lo, mas fui desarmada da maneira mais cruel: a pacífica, quase serena.
- Você nunca poderá me prender ou mandar no meu corpo, irmã. - Só então percebi o quanto sentiria falta do modo como ele me chamava. - A minha alma, entretanto, sempre caminhou ao seu lado e isso não mudará nunca. Lembre-se de mim como um anjo que você não vê, mas pode sentir.
Então, pela primeira vez naquela manhã, eu sorri. Já não sentia mais vontade de aprisioná-lo. Pelo contrário, agora queria libertá-lo de uma vez por todas. Voa, amigo. Voa, irmão. Voa e volta quando quiser. Abracei-o com força pela última vez e o acompanhei até o hall de entrada. Permiti que passasse pela porta aberta e não a fechei mais naquela manhã. Deixei-a escancarada, pois era assim que a porta ficaria para ele: aberta.
Respirei fundo e fechei os olhos por alguns instantes. Decidi que não choraria pela liberdade desnorteada da gaivota. Falando nela, olhei pela janela e vi que a mesma ainda planava lá fora, assim como o sol, que continuava a brilhar e a aquecer os corações gelados. E era isso que me confortava: não importa quão fria e escura esteja a noite, o sol jamais irá te abandonar. Basta apenas que espere pela manhã e veja-o nascer mais forte e belo do que nunca.
Ah, ele volta. Sempre volta.
Fui arrancada dos meus devaneios pelo barulho estridente da campanhia, o presságio imperfeito do que estava por vir. Era ele. Abri a porta e deixei que aquela imagem inundasse os meus olhos: a mala abarrotada de roupas e lembranças empacotadas às pressas deixava a sua face pálida ainda mais melancólica, quase como um poema inacabado a ser decifrado pela metade.
Gesticulei em direção a sala e só então ele entrou. Em dias normais ele não teria esperado pelo quase convite, pois sabia melhor do que ninguém que estava em casa. Agora, porém, a situação havia mudado. Ele estava de partida e ia se mudar para um lugar que oscilava entre o Até Nunca Mais e o Quem Sabe um Dia. Não disse, mas eu sabia que não voltaríamos a nos ver tão cedo. Já podia começar a sentir a saudade correndo nas minhas veias e foi o que fiz: saboreei a obscuridão da falta.
A verdade é que ele era um grande amigo, quase um irmão. Era? Que grande engano! Usar o pretérito ao falar dele era mentir para mim mesma: ele continuava sendo e eu sabia muito bem que seria para sempre. O que seria de mim agora? Quem iria me apoiar, me ouvir, me fazer rir? Queria gritar à plenos pulmões e depois xingá-lo por estar fazendo aquilo comigo. Se eu fizesse isso ele mudaria a sua decisão? Podia proibí-lo, prendê-lo, mas fui desarmada da maneira mais cruel: a pacífica, quase serena.
- Você nunca poderá me prender ou mandar no meu corpo, irmã. - Só então percebi o quanto sentiria falta do modo como ele me chamava. - A minha alma, entretanto, sempre caminhou ao seu lado e isso não mudará nunca. Lembre-se de mim como um anjo que você não vê, mas pode sentir.
Então, pela primeira vez naquela manhã, eu sorri. Já não sentia mais vontade de aprisioná-lo. Pelo contrário, agora queria libertá-lo de uma vez por todas. Voa, amigo. Voa, irmão. Voa e volta quando quiser. Abracei-o com força pela última vez e o acompanhei até o hall de entrada. Permiti que passasse pela porta aberta e não a fechei mais naquela manhã. Deixei-a escancarada, pois era assim que a porta ficaria para ele: aberta.
Respirei fundo e fechei os olhos por alguns instantes. Decidi que não choraria pela liberdade desnorteada da gaivota. Falando nela, olhei pela janela e vi que a mesma ainda planava lá fora, assim como o sol, que continuava a brilhar e a aquecer os corações gelados. E era isso que me confortava: não importa quão fria e escura esteja a noite, o sol jamais irá te abandonar. Basta apenas que espere pela manhã e veja-o nascer mais forte e belo do que nunca.
Ah, ele volta. Sempre volta.
•
"Depois de um tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar a alma." (Shakespeare)
17 comentários:
Que lindo! Amei! Vc já leu "A menina e o passaro encantado"? É do RUBEM ALVES. É infantil, mas lindo! Lembrei muito desse livro quando li seu texto. Indico muito Rubem Alves, alias. Vc conhece? Ah, e obrigada pelos elogios e as visitas no blog... Estou adorando! :D
entendi, e adorei o que você falou, tem toda a razão.
:**
Aaah, você acaba com os meus textos assim, sabia? Lindo fê, de novo. Haha.
ps; EU AMEI ESSA FOTO! É MARAVILHOOOOSA! *-*
É como conta aquela história... Da menina e a mãe que caminham na praia... você conhece? A Menina pergunta a mãe o como se faz pra segurar um amor!
Depois te mando.
Tô com aquela saudadinha de um pedaço baiano meu, você sabe onde ele anda?
É aprendi que as vezes o melhor é deixar a gaivota voar desfrutar da liberdade, a saudade vai bater mas sempre vamos estar aqui esperando ela voltar!
Mas um texto perfeito!
Bjos
E o prêmio de literatura 2009 da Blogosfera vai para "Sopa de letrinhas" e a encantadora Fernanda,cara uma lágrima caiu de meus olhos,pare de escrever desta maneira guria,vou comprar lenços sempre uai,Beijão e (Fã) sempre deste Blog lindão...
Menina, gosto muito dos seus textos e da maneira que escreve. Confesso que nunca vi sentido nesse trecho do texto de Shakespeare, mas você acaba de me fazer entendê-lo!
bom fim de semana!
beijão
entendiii tudoO! lindo demais..
beijO chuchu
Nossa, ficou tão lindo o texto... É, realmente não podemos querer que as pessoas fiquem ao nosso lado só pra não ficarmos só, mas apoiá-las em suas decisões, mesmo que isso implique no nosso sofrimento, certo? xD
bjusss
lindo, uma verdade incontestável, o sol sempre aparece depois da escuridão. você não deve escrever um livro, você TEM, existe uma editora que publica livros para jovens editores, sem compromisso e não cobra caro, depende da obra, publica assim como quem não quer nada, e se eles gostarem publicarão para venda...
depois te passo o endereço do site
:)
Fernaaaaaanda! *-*
Que lindo!
"E era isso que me confortava: não importa quão fria e escura esteja a noite, o sol jamais irá te abandonar. Basta apenas que espere pela manhã e veja-o nascer mais forte e belo do que nunca.
Ah, ele volta. Sempre volta."
Faço das palavras da Yasmin as minhas: "Você não deve escrever um livro, você TEM!"
;)
:***
"Uma loira aí", hm, você me lembrou que tem uma garota que me irrita mais que tudo na minha vida... Ai ai, deixa pra lá hahaha vou ler seu texto, Fernanda! :)
Sou contra ao uso e a legalização! Se sem poder eles já fazem esse inferno...
o adeus nunca é fácil, na verdade deve ser sempre deifícl pq senao daremos menos valor ao q nós temos, mas quando se faz necessário e nada pode ser feito, ele tem q ser alem de tudo sincero e q as portas nunca se fechem
http://confissoesdamadrugada.blogspot.com/
E o amor é assim - ama a ponto de dar liberdade. Mas não uma liberdade que sufoca, uma liberdade que conforta, por saber que estará sempre no coração. Lindo o texto, beijos.
Oi, Fer!
Obrigada pelo selinho. Lógico que curto, sim. É sempre carinho e eu adoro.
E respondendo a tua pergunta: Eu devo ter começado a escrever com uns 13 para 14 anos. Com o intuito de me aproximar mais do meu pai e estreitar nossos laços - pois ele tb adora escrever. E naquela idade eu não escrevia nada perto do que tu escreve. Acho que tuas analogias e reflexões são bem perspicazes e maduras. Me agradam.
Gostei muito do "Não Provoque", irônico e genial. Parabéns, guriazinha!
Escreva logo seu e-book, sim! Ou quem sabe um livro desses de "verdade" :)
Um beijo.
Você fala de seu irmão?
De qualquer forma, é difícil ver alguém partir, mas é preciso aprender que não temos como controlar se uma pessoa fica ou não...
Bjitos!
Postar um comentário