Salvador, 2 de dezembro de 2023.
Querida Fernanda,
Embora não tenha tido a felicidade de te conhecer pessoalmente, a minha mãe fala tanto sobre você que já me considero capaz de escrever-lhe sem maiores formalidades. Já sei de tantos detalhes sobre a sua vida e reconheço tantas semelhanças entre nós que, às vezes, até chego a pensar que nos conhecemos há mais tempo.
Sabe, Fê, cada vez que olho para a sua fotografia e enxergo através da sua alma, percebo que você é exatamente como eu era há quinze anos atrás, quando ainda tinha a sua idade: mais uma menina cheia de dúvidas e inseguranças. Mas não se preocupe, garota. Se isso te alegra, acabo de chegar aos trinta e as dúvidas ainda permanecem firmes, fortes e somadas as dívidas – a maior delas é comigo mesma, diga-se de passagem.
Com um tempo você acaba aprendendo a lidar com as suas interrogações e descobre que são elas que fazem com que as suas exclamações sejam tão exclamativas, se é que você me entende. Um dia você irá entender, de qualquer forma. Depois de um tempo você acaba aprendendo a lidar com os comentários maldosos (ou pelo menos a ignorar os mesmos) e percebe que eles são tão grandes quanto a mente daqueles que os fazem.
Lembro do sofrimento que foi para fazer vestibular. Nem tanto para passar, porque, graças a Deus, eu tive uma excelente base. Difícil mesmo foi responder àquela perguntinha que definiria o meu destino: ser o quê? Eis a questão, Nanda. Eis a questão... Questão complexa e, contraditoriamente, tão sórdida, já que ser você deveria ser o suficiente. Deveria bastar, mas não basta. É preciso ser a Médica Você, a Advogada Você, a Doutora Você... Como se significasse algo além de status – status de idiota, se quer saber a minha opinião sincera.
É claro que você tem capacidade. É claro que você pode ser absolutamente tudo que você quiser. O que você quer ser, porém? Porque de nada adianta enfrentar a concorrência do curso de Medicina da USP (já chegou à marca de 500 para menos uma vaga, a propósito?) e se tornar só mais uma médica, só mais uma infeliz.
Viva, Fernanda. Mas viva de verdade, fazendo as escolhas que VOCÊ julgar serem boas. E se você optar por aquele curso com a concorrência de um candidato para cada duas vagas e ouvir algum murmúrio de reprovação ou um “tanta capacidade desperdiçada” de desapontamento, ignore. Isso mesmo, Fê. I-G-N-O-R-E. A concorrência do curso pode até ser de um para duas, mas a do verdadeiro dom é de uma para um bilhão. E dom você tem, agora só falta a coragem para descobrir para quê.
A estrada será longa, mas, como diria o Renato Russo, "nunca deixe que lhe digam que (...) seus planos nunca vão dar certo, que você nunca vai ser alguém". Você vai ser alguém sim e digo mais: você vai ser exatamente quem você quiser ser. Só depende de você.
Se cuide, Fernanda. Ou melhor, não se cuide, não. Se descuide, se jogue, arrisque. Só assim você chegará aos trinta com uma cabeça de quinze, com os mesmos arrependimentos que terá aos dezoito e com as dúvidas que terá sempre.
Querida Fernanda,
Embora não tenha tido a felicidade de te conhecer pessoalmente, a minha mãe fala tanto sobre você que já me considero capaz de escrever-lhe sem maiores formalidades. Já sei de tantos detalhes sobre a sua vida e reconheço tantas semelhanças entre nós que, às vezes, até chego a pensar que nos conhecemos há mais tempo.
Sabe, Fê, cada vez que olho para a sua fotografia e enxergo através da sua alma, percebo que você é exatamente como eu era há quinze anos atrás, quando ainda tinha a sua idade: mais uma menina cheia de dúvidas e inseguranças. Mas não se preocupe, garota. Se isso te alegra, acabo de chegar aos trinta e as dúvidas ainda permanecem firmes, fortes e somadas as dívidas – a maior delas é comigo mesma, diga-se de passagem.
Com um tempo você acaba aprendendo a lidar com as suas interrogações e descobre que são elas que fazem com que as suas exclamações sejam tão exclamativas, se é que você me entende. Um dia você irá entender, de qualquer forma. Depois de um tempo você acaba aprendendo a lidar com os comentários maldosos (ou pelo menos a ignorar os mesmos) e percebe que eles são tão grandes quanto a mente daqueles que os fazem.
Lembro do sofrimento que foi para fazer vestibular. Nem tanto para passar, porque, graças a Deus, eu tive uma excelente base. Difícil mesmo foi responder àquela perguntinha que definiria o meu destino: ser o quê? Eis a questão, Nanda. Eis a questão... Questão complexa e, contraditoriamente, tão sórdida, já que ser você deveria ser o suficiente. Deveria bastar, mas não basta. É preciso ser a Médica Você, a Advogada Você, a Doutora Você... Como se significasse algo além de status – status de idiota, se quer saber a minha opinião sincera.
É claro que você tem capacidade. É claro que você pode ser absolutamente tudo que você quiser. O que você quer ser, porém? Porque de nada adianta enfrentar a concorrência do curso de Medicina da USP (já chegou à marca de 500 para menos uma vaga, a propósito?) e se tornar só mais uma médica, só mais uma infeliz.
Viva, Fernanda. Mas viva de verdade, fazendo as escolhas que VOCÊ julgar serem boas. E se você optar por aquele curso com a concorrência de um candidato para cada duas vagas e ouvir algum murmúrio de reprovação ou um “tanta capacidade desperdiçada” de desapontamento, ignore. Isso mesmo, Fê. I-G-N-O-R-E. A concorrência do curso pode até ser de um para duas, mas a do verdadeiro dom é de uma para um bilhão. E dom você tem, agora só falta a coragem para descobrir para quê.
A estrada será longa, mas, como diria o Renato Russo, "nunca deixe que lhe digam que (...) seus planos nunca vão dar certo, que você nunca vai ser alguém". Você vai ser alguém sim e digo mais: você vai ser exatamente quem você quiser ser. Só depende de você.
Se cuide, Fernanda. Ou melhor, não se cuide, não. Se descuide, se jogue, arrisque. Só assim você chegará aos trinta com uma cabeça de quinze, com os mesmos arrependimentos que terá aos dezoito e com as dúvidas que terá sempre.
Da sua amiga, Fernanda Leal.
Porque a escolha é SEMPRE sua, é sempre minha, não importa o que lhe digam, não importa o que me digam. A propósito, acho que essa carta será bem útil quando eu recebê-la, daqui a um pouco mais de dois anos. Caso venha a ser útil para mais alguém, aí vai um site que pode ser bem interessante: http://www.futureme.org/
14 comentários:
Eu nunca tenho palavras sufiecientes para comentar seus textos, moça.
Adoro o seu jeito de escrever, toda vez eu venho aqui viajo nessa sua sopa, cozinheira.
Além disso, obrigado pela última visita ao Cabaret de Vênus.
http://cabaretdevenus.blogspot.com/
Mr.Cafa
Meu Deus, com você consegue?
Hahaha.
Ainda bem que eu não sou a única louca que fica escrevendo no futuro, coisas para o presente. Mas essas estão escondidas! ;s haha.
De qualquer jeito, Fê, acho que é exatamente assim. Nossos medos e inseguranças, e até mesmo nossas dúvidas continuam firmes e fortes. Como sempre foram, são, e sempre serão. Algumas coisas não podem ser mudadas com o tempo. Nem com a maturidade. Algumas dúvidas permanecerão para sempre. Às vezes cutucando mais, às vezes mais na delas. Mas de uma forma ou de outra, sempre estarão lá.
beeeeeeijos =)
Ah, essa carta ficou perfeita! Adorei!
Concordo contigo quando disse que não devemos achar que somos "fracassados" apenas porque os outros dizem isso! =)
Beeeijos!
gostei da carta guria,então ela falava que eu adorava um defunto,me zuavaaa sabe,rs,beijão,adoreiii aquii
Guarde com carinho essa carta e espere para ver, admiro a maturidade e visão q vc tem ao escrevê-la. Numa coisa vc ta certa, tudo q precisamos esta em nós mesmos, é só saber onde procurar nesse universo q cada um de nós é dentro da nossa alma
http://confissoesdamadrugada.blogspot.com/
Uau, gostei da carta!
beijos
Nossa, perfeito né?? Fala sério, você escreve muito bemmm.. hahahahaha.. me admiro com cada texto seu...
Adorei sobre o fator universidade, quer dizer, vestibular, decidir oq quer fazer... muita gente ainda sofre e sofrerá com isso..
bjusss
quando fiquei internada, com cancêr, passei escrever cartas, para mim, e fui guardando, pedi a minha mãe que as enviasse quando tivesse me recuperando, já em casa, durante o ano após a doença, e foi muito útil, adorei a idéia, ficou ótimo seu texto. :)
Adorei o seu texto, e como o primeiro a comentar disse, eu realmente também não tenho palavras para comentar. Já entrei nesse site há alguns dias e mandei uma mensagem pra mim mesma pra daqui há um ano, que será um ano que eu sonho muito (dos meus 15 anos), e eu escrevi coisas que quando eu for ler, sei que vou me emocionar :p
Beijos!
Amei seu blog, Fernanda!
Não tenho nem palavras pra descrever, apenas sinto.
Parabéns, Fernanda! ;)
Amei amei amei. Teu blog é ótimo, o texto ficou lindo. Também já mandei uma carta pra mim, que chega em 2016, se não me engano... É isso aí. Porque não importa se é motivo de agrado ou orgulho aos pais ou amigos, importa é que você vai ficar o resto da vida fazendo essa mesma coisa, e não seus pais/amigos, então é você quem tem que gostar :*
Eu sempre soube que essa Fernanda lhe queria bem! ;)
MINHA LEAL (L)
Minha Sex. *-*
Sabe o que é morrer de saudade? Eu nunca morri, mas acho que vou descobrir como é! Deixarei no meu testamento que a culpa é toda sua! *-*
Te AMOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!
Obrigada por ter comentado em meu blog. O seu também é demais! *-* Não, não escrevo fics. hahaha mas gostaria de saber o que a levou a crer nisso!
Obrigada mais uma vez.
hauhuahauha,Flor rambo agradece a presença lá no blog,rs,é complicado demais viver essa situação,rs.Beijão
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